O reggae contemporâneo de Matisyahu
Pegue uma base de reggae raiz, com muito de Bob Marley and the Wailers e de Peter Tosh, coloque por cima algumas batidas de Racionais MCs, e da atitude hip hop. Adicione a isso uma estranha levada dançante, descomprometida. Mais alguns solos de guitarras enlouquecidas do rock’n’roll e citações da Torá (livro sagrado dos judeus) depois e o resultado é Matisyahu. Judeu do ramo Chabad-Lubavitch do Hasidismo, Matisyahu nasceu na Pensilvânia, cresceu na Califórnia e hoje é cidadão de White Plans, subúrbio de Nova York. O cantor, registrado como Matthew Miller viveu até o começo da adolescência sem dar importância à sua herança religiosa. Foi expulso de colégios, deixou os dreadlocks crescerem e com seus amigos hippies aproveitou a jovem existência como qualquer pessoa saudável. Até que uma viagem para o Colorado, aos 14 anos (ele hoje tem 27), abriu sua mente e Miller rendeu-se à sua missão, por assim dizer. Viajou para Israel, espaireceu e percebeu ser um herdeiro e porta-voz da história judaica. Algumas de suas composições de hoje retratam ou se inspiram em sua conduta passada (Fire with the flame of the youth/Got the freedom to choose/You better make the right move – Youth). A identificação de um judeu com o reggae não é tão incomum quanto parece, afinal os jamaicanos também sofriam com a falta de uma pátria (foram “importados” da África pelos ingleses como escravos) e um de seus líderes, como tudo indica, afirmava descender do rei judeu Salomão. Tanto que em uma entrevista recente, Matisyahu disse à revista norte-americana Rolling Stone que “em qualquer música de Bob Marley você ouve inúmeras citações poderosas da Torá”. Mensagens diferentes, tempos diferentes. Hoje, seu segundo e mais recente álbum Youth é um dos mais comentados nas Américas. Publicações gabaritadas como Rolling Stone e Wall Street Journal vêm falando dele. Suas músicas estão sendo rapidamente sugadas de programas como iTunes e sua imagem cada vez mais reproduzida por canais pops como MTV. Se Shake off the dust...Arise, seu primeiro álbum de 2004 vendeu perto de meio milhão de cópias, as expectativas para esse último são ainda maiores. Alguns acreditam que Matisyahu é uma boa jogada de marketing. Afinal, não é todo dia que se vê um judeu ortodoxo vestido dos pés à cabeça como tal, cantando reggae e hip hop. Ideologias à parte, o som que ele faz é, sim, muito bom. As letras são repletas de mensagens construtivas que não soam piegas. A melodia é uma delícia. Um reggae contemporâneo que mescla referências e vertentes de todos os tipos. Matisyahu é completo em atitude e musicalidade. É ouvir e aproveitar.
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